O dia em que a Índia Catarina se apaixonou pelo cantor de seresta e fugiu com o fotógrafo.
Para os jovens Tatay e Jr. de Major.
Outro dia, por acaso, encontrei dois jovens amigos parados papeando na Rua dos Quebrados. E deu pra perceber, pela leitura labial, que estavam falando de um causo da época do Chuveirinho e então aproveito para contar.
Como é do conhecimento de muitos existia em nossa cidade um bar e restaurante que era da moda: o Chuveirinho. Fins de semana e época de festas lá se realizavam grandes bailes com músicas de seresta, lembrando memoráveis bailes da AAM e Rádio Clube.
Pois bem, numa terça feira da “Festa do Padroeiro”, dois amigos saíram para curtir e ao passarem pelo hotel do beco da mangueira deram de cara com um bate boca entre um hóspede e sua esposa. Tinham parado o carro pra tomar uma gelada e terminaram assistindo uma verdadeira fria, considerando que a situação estava muito exaltada e até com risco de agressão física. Foi quando no intuito de acalmar os ânimos um dos amigos pegou a morena e colocou no carro avisando ao esposo que ia dar um volta enquanto ele se acalmava. Terminaram no chuveirinho.
Como de costume o Chuveirinho estava lotado. Sentaram em um canto e começaram a bebericar uma “gelada”. Lá pras tantas o amigo que trouxe a índia tirou-a pra dançar. O salão estava lotado de pares dançando ao som de músicas de seresta. O cantor, famoso na cidade, no esplendor da idade, charmoso por natureza, cavanhaque a lá artista mexicano, voz romântica e bem semelhante aos grandes cantores de sucesso, tornava o ambiente dengoso para os corações carentes. Num intervalo o cantor deixou o palco e veio para o meio do salão.
A índia Catarina não tirava os olhos do cantor e no momento em que, por acaso, os olhares se cruzaram deu-se um like, como se diz hoje, e com um sorriso maroto o cantor se aproximou daquela cabocla linda, corpo escultural, cabelos lisos e sedosos caídos até as nádegas emolduradas. Uma beleza de fechar o comércio! Logo entabularam um papo. Daí pra frente o baile seguiu e o romântico cantor não conseguia tirar a figura da índia da mente.
Para sossegar o coração, aproveitou e disse que estava com uma indisposição e que precisaria deixar o local ficando a croner em seu lugar. Deixou o palco e foi direto para a mesa em que vira a índia Catarina e não a encontrou. Rodou por todos os cantos e nada. Sentou-se em um canto e desabafou ao seu amigo de infância Artur o motivo de sua aflição. Chegou a pensar que estava sonhando. Mas, um outro amigo chegou e com ar de espanto disse: “Cara, estou pasmo: “o fotógrafo passou por mim na esquina de Baú levando abraçado uma índia que mais parecia uma miss”. “Vixe Maria, que máquina!”. O Cantor de Seresta, ao ouvir essas palavras, tirou o lenço do bolso, sem dizer palavra, enxugou uma lágrima que corria pela face e como consolo pediu uma dose de conhaque domecq voltando triste para o palco. O baile seguiu sem o mesmo entusiasmo.
Pois é, a vida tem dessas coisas!
Abílio Ubiratan (heterônimo).
Por prof. Bibito.
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